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Mensagem por Alaska Nakine Monoke Sáb Set 29, 2018 6:24 pm



When the violence causes silence
x Horário: Tarde
x Motivação: Treino com foice

O sangue queimava feito ácido nas veias, os pulmões corrompidos pela atmosfera que agora lhe era uma estranha. Um único tropeço... E o equilíbrio já precário não foi suficiente para mantê-la de pé. Caiu em baque surdo, o coração ameaçando abandonar a caixa torácica enquanto a cabeça quicava no chão uma e outra vez. Podia sentir o filete rubro que escorria pela testa, o cheiro forte e férreo, a umidade se mesclando aos fios loiros... "Droga." Raras eram as vezes em que Lazl usava aquele tipo de palavreado, mas a ocasião realmente mereceu. Já estavam no que..? Terceira ou quarta falha consecutiva? A Monoke bufou, o corpo exausto já não tinha o mesmo reflexo. "Só mais uma." Insistiu mentalmente para ninguém em especial. Era quase engraçado conhecer cada uma das próprias falhas e ainda assim ser incapaz de corrigi-las.

Suspirou alto, irritadiça consigo enquanto tentava se levantar. Na grande tela, logo à frente de si, o replay mostrava o exato segundo em que deixou a foice se chocar contra o solo em meio ao movimento que deveria ter sido fluido, interrompendo bruscamente a própria inércia de modo a lançar-se no chão. A cada nova tentativa, um erro diferente. Na última tinha sido a falta de força no punho que provou-se insuficiente para conseguir deixar qualquer marca no boneco de aço, na anterior o pequeno detalhe de que quase havia atingido a si mesma ao girar o cabo de Kakali ao redor de si, esquecendo-se de que a arma possuía dois lados laminados... E agora aquela merda. Os nós dos dedos já estavam brancos pela pressão a que eram submetidos, a face brilhando pelo suor que escorria-lhe bastante próximo aos olhos. A respiração certamente se parecia muito mais com a de um tuberculoso pós-triatlo do que com o de uma meio-sangue em treinamento. Roupas abarrotadas, o corpo sujo, a lâmina marcada pelos erros... Talvez a pior parte fosse mesmo o constante e implacável julgamento.

"Idiota." Lançou para si mesma sem nem mesmo entreabrir os lábios, o descaso apontando na pequena e significativa palavra enquanto o sorriso curvava-lhe o canto da boca. Tinha o olhar maldoso e instável, combinando perfeitamente com a cor quase púrpura que o leprechaun imaginário exibia em seu tremeluzir. Estava cansada e não era só fisicamente... A maldita sala tecnológica de treinamento parecia-lhe qualquer coisa menos confortável ou acolhedora. Sua cabeça latejava com a potência de um home theater blu-ray 5.1 ligado no máximo, a garganta seca tanto pelo exercício quanto pelo nervosismo que se embrenhava em suas entranhas, o mundo ao redor parecendo não ter mais qualquer importância ao que fazia. Sabia que estava no ambiente bem iluminado artificialmente, com a temperatura controlada por aqueles potentes ares, ignorando a existência de outros filhos de divindades enquanto o objetivo simplório escapava feito vendo entre os dedos de ambas as mãos. Era para ser simples, não? A tarefa básica era decapitar o autômato fixado ao centro, que não fazia nada além de desviar ou defender com a grande prancha de ferro que tinha em ambas as mãos. Um treinamento simplório e ridículo... Mas que já estava lhe causando alguns problemas.

Acontece que, caso não saiba, mesmo os semideuses não são automaticamente aptos à tudo como pequenos sistemas universais de armazenamento em um corpo orgânico. Era a primeira vez que Alaska tocava em uma foice de tal porte e tanto o peso quanto os moldes pareciam terrivelmente desconfigurados a si. Era uma arma grande e maciça, o cabo longo demais e ambas as extremidades munidas de lâminas curvadas para lados opostos, entregue nas mãos de uma filha inexperiente de Deimos. Um desastre potencial que tinha absolutamente tudo para ser concretizado... E que de fato o fazia sempre que tinha oportunidade. Um pequeno erro aqui, um pequeno erro ali... A Monoke parecia não entender que deveria apenas guiar a arma junto a si ao invés de branda-la heroicamente como uma espada curta por aí. Kakali era imponente, respeitosa e voluptuosa... E pouco se ajustaria à um portador que tentava dobre-la ao invés de usa-la. Talvez por isso tenham ficado tanto tempo naquela brincadeira.

Rolava o cabo pela destra, mas pelo esforço de fazê-lo o movimento saía infrutífero e pesado, girava-a ao lado do corpo, mas por fazê-lo com apenas a força dos braços, o ombro parecia feito de chumbo, sustentando todo o porte com os músculos já enfraquecidos. Era um desastre pesaroso e pouco certo, que nada mais servia para além de perder alguns quilos na atividade banal e idiota. Era certo que não seria daquele jeito que dominaria a foice dupla... E ainda teimava em tentar, rodando ao redor do autômato, desferindo golpe atrás de golpe sem qualquer sucesso. Horizontal da esquerda para a direita, na altura do peito, bloqueado. Vertical de baixo para cima, viando o ombro esquerdo do alvo, bloqueado. Transversal de cima para baixo na tentativa de rasgar a barriga do ser de inconsciência... Outra vez sem sucesso. Tentativa após tentativa, falhava miseravelmente, até o próprio organismo se rebelar contra o esforço. Os braços pesavam-lhe toneladas, a cabeça parecia prestes a explodir sem qualquer aviso. Bufou, impaciente, mal percebendo a falta de Lazl. Estava tão ocupada em suas tarefas que a mente turbulenta não tivera tempo de pensar no leprechaun multicolorido. Bufou impaciente, revolta. Nada dava certo.

Em um movimento impensado, atirou Kakali no chão, culpando o objeto inanimado com todas as suas forças, fuzilando-o com os olhos mortíferos em uma ameaça muda. Queria destruir o presente imprestável... Queria quebrar em mil pedaços cada um dos seguimentos metálicos... Mas, depois de muito tempo arfando com ambas as mãos apoiadas nos joelhos, finalmente cedeu. Desativou a foice, fazendo-a voltar para a forma de anel, colocando a joia no dedo antes de sair emburrada em passos pesados, dando as costas ao espaço de treino. Naquela tarde, a Monoke certamente estaria tempestuosa como nunca.

Observações:

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